Veja como a crescente demanda por biodiesel e as exportações de sebo bovino afetam oferta, preços e estratégias para produtores e compradores no agronegócio
Segundo o Boletim Trimestral do Mercado de Combustíveis da ANP, em 2024 o óleo de soja representou cerca de 74% de todas as matérias-primas usadas para produzir biodiesel. As gorduras bovinas (sebo) tiveram participação de aproximadamente 6%, e “outros materiais graxos” (que incluem óleos residuais, gorduras de frango ou suína, óleo de cozinha usado, etc.) ficaram com entre 14% e 20% dependendo da contagem.
O preço do óleo de soja variou bastante em 2024: de R$ 4.774/tonelada a R$ 6.650/tonelada entre janeiro e novembro, um salto de quase 39% no período. Esse aumento refletiu não só a cotação internacional do insumo, mas também a desvalorização do real frente ao dólar.
Além disso, a produção de biodiesel subiu: em 2024 o Brasil produziu cerca de 9,1 milhões de m³ de biodiesel, o que representou crescimento de aproximadamente 21% na comparação com 2023.
Exportações de sebo bovino: volumes e tarifas que mudam o jogo
De janeiro a julho de 2025, o Brasil exportou 290,8 mil toneladas de sebo bovino. Esse volume já era quase 91% do total exportado em 2024, segundo dados da Scot Consultoria.
Os Estados Unidos foram responsáveis por aproximadamente 98% desse volume exportado no período.
Entretanto, com a imposição de tarifas de importação de cerca de 50% pelo país norte-americano sobre alguns produtos brasileiros, incluindo subprodutos da carne, muitas exportações de sebo enfrentam agora condições “proibitivas”, tornando difícil manter os volumes para aquele mercado.
Consumo interno de sebo e gorduras animais
De acordo com a ANP, no primeiro semestre de 2025 mais de 231.000 toneladas de sebo bovino foram usadas para a produção interna de biodiesel, o que corresponde a aproximadamente 5,6% do total de matéria-prima do setor.
Ou seja: embora exista grande interesse em exportar, há também uma movimentação para que o uso doméstico aumente ou absorva parte do sebo que deixa de ir para fora, especialmente caso exportações fiquem muito oneradas pelas barreiras tarifárias.
Também se observa que o sebo exportado muitas vezes tem acidez maior, o que nem sempre é ideal para biodiesel, então parte da oferta interna de “bom sebo” pode ficar restrita.
Impactos sobre preços, oferta e estratégia
Com exportações em alta e tarifas alterando expectativas, os preços do sebo bovino subiram. Em 2024/2025 há relatos de valores elevados para o insumo, em alguns momentos similares ou próximos aos do óleo de soja — o que reforça a competição interna.
Isso gera pressão para quem produz biodiesel: o custo da matéria-prima sobe, as margens podem diminuir se o biodiesel vendido ou misturado precisar obedecer a regulamentações fixas de mistura obrigatória. Já para quem fornece sebo ou gorduras animais, há oportunidade de obter preços melhores, mas depende de logística, qualidade (como acidez), certificação e de políticas tarifárias externas.
Regulamentações e perspectivas para os próximos meses
- O mandato de mistura continua sendo um motor muito importante: quanto maior o percentual obrigatório de biodiesel no diesel fóssil, maior a demanda interna por matéria-prima, incluindo gorduras animais.
- As tarifas impostas pelos EUA sobre os subprodutos da pecuária brasileira e sobre sebo podem reduzir exportações, mas também aumentar a oferta interna, dependendo do equilíbrio entre preço internacional versus preço doméstico mais custos de logística.
- A crescente exigência por matérias-primas com baixa emissão de carbono, rastreabilidade e características ambientais favoráveis pode favorecer o sebo bovino, óleo usado e resíduos, desde que se mantenha custo-benefício técnico aceitável.
- Produção de soja continua determinante: variações nessa cadeia (clima, custos, exportações) afetam diretamente o preço do óleo vegetal, que domina o mix de matéria-prima. Isso também reforça a importância de diversificar para quem depende fortemente do sebo ou de gorduras animais.
Projeções para 2026
- A mistura obrigatória de biodiesel deverá subir de 14% (B14) para 15% (B15) em 2026, de acordo com a Resolução nº 16 do CNPE.
- Com esse aumento, estima-se que a demanda nacional de biodiesel alcance em torno de 10,7 bilhões de litros em 2026, com projeções da Veeries.
- Haverá necessidade acrescida de matéria-prima, especialmente óleo de soja, gordura animal e sebo bovino, o que pode intensificar a pressão nos preços.
- A produção de soja segue com previsão de crescimento para 2025-2026, o que deverá favorecer o abastecimento de óleo vegetal. A Abiove revisou sua projeção para 2025 para cerca de 170,3 milhões de toneladas.
- Quanto ao sebo bovino, há expectativa de que seu consumo interno se fortaleça em 2026, motivado por tarifas externas que devem reduzir exportações, principalmente para os EUA.
- Também se projeta um possível ajuste na proporcionalidade entre óleo vegetal e gorduras/resíduos (sebo, gorduras animais, óleos residuais) nas matérias-primas usadas, com gorduras e resíduos ganhando espaço relativo caso os preços internacionais de óleo de soja se mantenham altos ou haja mais barreiras comerciais.
Um cenário de desafios e oportunidades
Em 2025, o Brasil vive uma tensão crescente: a exportação de sebo bovino alcança níveis muito elevados, pressionando os estoques internos e influenciando preços, enquanto, ao mesmo tempo, o biodiesel tem demanda regulatória fixa ou crescente, que precisa de matérias-primas. Embora o óleo de soja continue dominante, as gorduras animais — sebo, em especial — estão assumindo papel estratégico, mas limitado por oferta, qualidade e competição externa.
Para quem produz sebo ou gorduras animais, há uma janela de oportunidade clara: preço valorizado, interesse doméstico e necessidade de matérias-primas de baixo carbono. Para compradores de biodiesel ou empresas envolvidas, vale garantir contratos de fornecimento antecipados, observar qualidade (como a acidez), acompanhar tarifas internacionais e diversificar fornecedores para não ficar vulnerável a flutuações externas.
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